Um novo álbum de Grog requer sempre por parte do ouvinte um certo período de reflexão e meditação pois o choque psicológico e auditivo para com tamanhas obras de brutalidade poderá causar danos irreversíveis. O sucessor de “Scooping The Cranial Insides” revela o porquê de os Grog serem uma das formações nacionais mais respeitadas não só cá mas também lá fora. Foram seis anos a preparar os ingredientes em estúdio e a verdade é que no meio de todo este processo não houve qualquer tipo de contenção e é por isso mesmo que “Ablutionary Rituals” consegue ser o álbum mais brutal nos 25 anos de trituração sonora do quarteto lisboeta.
Os Grog brindam-nos com 14 dos temas mais selvagens e agressivos de toda a carreira sem que para isso tivessem de abrandar em termos técnicos, precisamente pelo contrário, onde a banda consegue aumentar o nível de brutalidade sonora adicionando elementos técnicos que vão desde o Jazz até ao mais brutal do Death Metal, sem esquecer a pureza do Grindcore vincado no som da banda desde os seus primórdios.
“Ablutionary Rituals” é um álbum mais “directo ao assunto” que o antecessor, possivelmente o álbum mais “in your face” da banda, sem refrões que ficam no ouvido como no anterior, mas com um nível de agressividade incrível que veio provar que os Grog conseguem ser mais rápidos e brutais que o imaginado acrescentando pormenores técnicos que vão crescendo e aparecendo a cada nova audição, sendo assim um álbum que evidentemente acaba por soar ainda melhor à medida que o tempo de degustação vai aumentando.
Liricamente, de forma sucinta, o álbum aborda a génese do lado sombra/ego do ser humano, acaba por ser uma forma para compreendê-la, aceitá-la e transmutá-la para algo superior, no sentido etéreo. Em suma, existe uma grande confrontação relacionada com questões do ego humano e com a perda de identidade da sua essência.
É um álbum frenético que se divide em temas mais directos e rápidos, e outros com riffs mais pesados e arrastados mas que rapidamente acabam por ser trucidados pela brutalidade sonora que acaba por embater nesses acordes lentos de guitarra. A ilustração disso será a arrepiante introdução “Revelation - Open Wound” e da passagem para o segundo tema “Uterine Casket”, ou a “A Scalpel Affair”. Uma voz gutural a contrastar com outra mais aguda, um arsenal de guerra de nome Rolando Barros, um baixo sempre audível e perspicaz a juntar a uma guitarra que destilha riffs sem qualquer tipo de contenção. São estes os ingredientes que tornam temas como “Savagery” e “Sterile Hermaphrodite” obrigatórios em qualquer set da banda, este último com riffs que remontam ao “Odes To The Carnivorous”.
O trabalho de guitarra é fenomenal onde os solos estão mais evidentes nas músicas de Grog que nunca, exemplo disso serão “Sarco-Eso-Phagus”, “Vortex Of Bowelism” e “...Of Leeches, Vultures And Zombies”. “Gore Genome” e “Gut Throne” e “Flesh Beating Continuum” são exemplos dos temas mais rápidos e sem piedade alguma em todo o álbum. A surpresa vem claramente no fim do álbum com o tema “Katharsis - The Cortex Of Doom And Left Hand Moon”, com a participação especial de Rui Sidónio (Bizarra Locomotiva) na voz, num tema pausado e ofegante, onde a meio da música se chega a um ambiente totalmente arrepiante, mas relaxante! Uma experiência singular, onde os Grog relembram que “em todos nós vive um monstro”.
“Ablutionary Rituals” é um álbum surpreendente que vem consolidar a carreira dos Grog ainda mais e onde a idade parece não abrandar a banda. O álbum foi editado pela Helldprod e Murder Records em CD Digipak e estar estará à venda nos locais habituais. O ano dos Grog não começou por aqui pois foram uma das bandas presentes no tributo a Simbiose “Simbióticos” com uma versão brutal do tema “O Seu Lugar” que serviu como que um aperitivo para o novo álbum.
2017 tem tudo para vir a ser um dos melhores anos de sempre no espectro metálico português onde um conjunto de bandas que emergiu nos anos 90 se prepara para lançar trabalhos novos, como os Grog que já lançaram, e os Sacred Sin, Holocausto Canibal ou Filii Nigrantium Infernalium que irão lançar. A onda de revivalismo não se fica por estas bandas, pois outros registos de nomes como Genocide ou Thormenthor irão ganhar nova vida e nós estamos cá, prontos para tudo!
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