quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Bizarra Locomotiva - Álbum Negro

Precursores do Industrial no nosso país, os Bizarra Locomotiva ocupam hoje um lugar confortável no panorama musical português. A sua história remonta a 1993, quando Armando Teixeira (voz e maquinaria) e Rui Sidónio (voz) formam uma banda com vista a participar no Concurso de Musica Moderna da Câmara Municipal de Lisboa, um evento importante, de âmbito nacional, que já havia dado a conhecer grandes talentos. Os Bizarra Locomotiva sempre foram muito caracterizados por serem uma banda um pouco incomum, os temas em si são comuns mas a abordagem destes senhores é sempre diferente, é uma poesia feia e nojenta, cheia de raiva e ódio. Na minha opinião neste “Álbum Negro” nota-se uma grande evolução na banda em termos musicais comparando com o álbum anterior “Ódio” em que muitas melodias e sons são parecidos aos de outras bandas. Este álbum novo está mais pesado, com temas mais originais, também é um álbum negro e sombrio. As letras de Bizarra abrangem tudo: Filosofia, História, Mitologia, mitos passados e ideias futuristas. Em termos de sonoridade, há quem diga Industrial Rock, para mim é Industrial Metal, a edição deste trabalho ficou a cargo da Raging Planet Records.

O Industrial nunca foi o meu estilo, mas este novo álbum vicia qualquer pessoa, os poemas obscuros de Rui Sidónio e a composição das músicas de Miguel Fonseca dão uma atmosfera inexplicável a este trabalho: guitarras destorcidas, os samples incríveis e a grande voz de Rui Sidónio. A primeira música “Nostromono” são só samples e sintetizadores, até é engraçada, mas já ouvi introduções melhores dos Bizarra. “Êxtases Doirados” é uma grande música, acho que o álbum não podia começar melhor, uma música pesada, feia e cheia de energia, “Remorso” é outra música de grande qualidade, é muito original com aquele refrão assustador. “O Anjo Exilado” é uma faixa recheada de samples, sintetizadores e com um ritmo mais alternativo, conta com a participação de Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, gosto muito da música, em relação à voz de Fernando Ribeiro, não fica muito mal, mas prefiro Bizarra Locomotiva “sem gelo”. A música “Ergástulo” é das melhores músicas que ouvi até hoje, é como se a Locomotiva abrandasse, é lenta, assustadora, os vocais são sussurrados e a letra está extraordinária, é a melhor letra neste álbum e uma das melhores músicas que ouvi até hoje. A seguir vem a minha preferida, de todos os álbuns de Bizarra, de tantas músicas, esta é mesmo única: “Sufoco De Vénus” é pesada, rápida e obscura, os vocais são espectaculares já para não falar da melodia, o main riff, os samples, a bateria e as guitarras criam uma atmosfera única, tenho pena de eles não a tocarem ao vivo.

“A Procissão Dos Édipos” é uma obra de arte, marcada por uma secção rítmica em toda a música, e quando o Rui diz “e tocam os sinos” é um dos gloriosos momentos do álbum, é puro Industrial, aqueles sinos que se ouvem ao fundo são únicos… “Engodo” é outra faixa única, mais Rock, menos Metal, é como se fosse uma viagem, onde os teclados criam uma melodia de fundo espectacular para ser cantada em coro, óptima para abrir os concertos, quem já esteve numa estação da Bizarra Locomotiva sabe daquilo que estou a falar. Outra música que gostei bastante foi a “Egodescentralizado”, aqui, a Locomotiva anda a toda a velocidade, destruindo tudo, “deixo passar o comboio veloz”: é uma música pesada, rápida, com uma melodia muito boa e com uns sintetizadores geniais, adoro aquela parte da respiração de Rui Sidónio, “Egodescentralizado” é um autêntico clássico!

No meio de 5 álbuns de estúdio fabulosos, o “Álbum Negro” é único, estrondoso do início ao fim, é um álbum mesmo muito negro, representa aquilo que são quase vinte anos de maturidade e evolução, os Bizarra Locomotiva são uma das melhores bandas portuguesas da actualidade, ouçam isto!!!

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