sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Entrevista: Gazua

Lançar 3 álbuns em 3 anos é obra! Onde é que vão buscar tanta inspiração?
Ouvimos muita e diferente música e por isso estamos sempre a reciclar as nossas influências. A cada ano que passa apetece renovar o nosso repertório para não estarmos sempre a contar a mesma história e da mesma maneira. Para além disso a literatura, o cinema, o teatro ou outras formas de expressão artística são sempre uma infindável fonte de inspiração. É uma questão de estarmos atentos ao que se passa. A sociedade em si é uma constante fonte de ideias, tanto no seu lado mais luminoso como no seu lado mais negro.


São uma banda de puro DIY, como fazem a impressão das capas dos CDs, os posters…
Esse é o meu departamento (João Corrosão)… Tenho formação em Design e por isso gosto de dar bastante importância ao aspecto visual dos discos. Sempre dei atenção ao que as bandas transmitem para além da música e tento sempre que cada disco seja uma novidade também nessa parte. A ideia é criar uma obra física especial e não apenas um embrulho para o CD. Trabalho de perto com uma serigrafia que nos tem apoiado muito e isso tem facilitado as coisas.


Qual foi o objectivo de fazer um pack com poster, patch, pin, palheta, e obviamente, o CD?
Nessa altura li um livro sobre os anos 60 e 70 na américa e como os jovens se juntavam em manifestações contra o sistema que tinham. Fosse contra a segregação racial, ou contra a guerra no Vietname, entre outros… Achei que Portugal estaria a precisar de um momento desses nos dias de hoje e por isso dediquei o disco a esse tema. A caixa serviria como um kit para uma nova contracultura onde terias para além do som e dos textos, uma série de itens alusivos a isso que poderias usar no teu dia-a-dia.


O tema “Morreu O Coveiro” é espectacular, mas também um pouco cómico e realista…
Esse tema foi um contributo exclusivo do Paulinho (baixista). É uma ideia estranha, mas um coveiro quando morre é provavelmente enterrado numa campa que abriu no dia antes… Se não for assim, quem é que trata desse assunto? É mesmo para ser uma perspectiva um pouco cómica da situação.


Preparam-se para lançar o sucessor de “Contracultura”. Quais vão ser as principais diferenças em relação aos trabalhos anteriores? Já tem nome?
O novo disco está sem dúvida diferente. Sentimos que com o “Contracultura” se tinha fechado um ciclo. Quisemos experimentar novas fórmulas e novos sons mantendo, claro, a personalidade da banda. A música é um mundo vasto demais para estarmos sempre a bater na mesma tecla. Somos uma banda para um público de mente aberta. Por sentir que saímos um pouco fora das nossas composições habituais resolvemos chamar ao disco “Transgressão”. O título também representa uma vida dedicada a um estilo de som que será sempre o “lado B” do circuito nacional.


Podem adiantar ainda mais alguma coisa sobre o disco?
Foi gravado com um novo e super baterista (Paulinho dos RAMP), e estivemos pela primeira vez nos estúdios Black Sheep a gravar com o Makoto Yaguy e com o Fábio Jevelim. O contributo que tivemos desta renovação deu uma nova cor ao nosso som. A masterização esteve a cargo de Chris Common que também fez um excelente trabalho. Estamos ainda a trabalhar em dois vídeos promocionais, e o lançamento deste novo trabalho está marcado para início de Maio de 2012.


Em relação à editora, mantem-se a Raging Planet?
Sim, a edição vai ser em parceria com a Raging Planet. Ainda estamos à espera da resposta de mais um possível parceiro.


Que bandas/pessoas mais vos influenciam na composição dos temas?
Esse universo é demasiado vasto… De momento bandas como os New Model Army, a Patty Smith, o Wayne Kramer, os The Clash, entre outros… São projectos musicais que estão bem presentes no nosso dia-a-dia. Para além disso mexem connosco pessoas que não se resignam a uma vida sem objectivos como nos tem sido imposto pelos nossos governantes. Conhecer a história de um Gandhi na sua luta pacífica contra os colonos ingleses na Índia, ou de um Nelson Mandela na luta contra o Apartheid na África do Sul, ou ler os textos do Zeca Afonso e contextualiza-los na ditadura, conhecer as Farpas de Eça de Queirós da segunda metade do séc. XIX em Portugal, ler o triunfo dos porcos do Inglês George Orwell e a sua crítica aso regimes totalitaristas, ver a animação “Pesepólis” da Marjane Satrapi que nos mostra o Irão por dentro ou as bandas desenhadas do ilustrador/jornalista Joe Sacco sempre em ambientes de guerra no médio oriente… Uffff… São apenas uma pequeníssima parte de exemplos de fontes de inspiração…


O poema no final do disco, “A Minha Droga”, é bastante profundo e emotivo. Como surgiu? Já o tinham escrito há muito tempo?
Esse texto já existe desde o princípio do projecto… E vem realmente das entranhas. No fundo sinto-me viciado em pessoas fortes e decididas pois são elas que me dão força para enfrentar os dias.


Pode ser interpretado de diversas formas… Para ti o que significa esse poema e de que forma está ele relacionado com o conceito do álbum?
A ideia da “contracultura” é a criação de uma cultura alternativa à vigente. Criar um espaço onde possamos procurar e trocar referências sem que essas nos sejam impostas pela indústria mainstream que só está preocupada com lucros ao final do ano. “A Minha Droga” são todas essas acções de procura e de partilha.


Por fim, querem deixar alguma mensagem?
Queria agradecer-te pelo teu apoio. O teu Blog é uma ferramenta importante na proliferação de ideias que não têm espaço nas grandes montras, mas que não deixam de ser tão ou mais importantes do que se passa todos os dias no nosso país. Para o resto do pessoal recomendo que questionem sempre o que lhes é apresentado. O espírito crítico pode ser o segredo para uma sociedade mais justa, e já agora que apareçam num concerto de Gazua que é sempre uma celebração a isso mesmo!

3 comentários:

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    Excelente entrevista!

    Parabéns ao blog pelas perguntas e à banda pelas interessantes respostas!


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  2. Muito bom.

    Parabéns pelo blog. Gazua rules.

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  3. Dá-lhe Gazua...sempre a bombar. O Norte aguarda vossa visita

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