Oriundos da Amadora e nascidos em Outubro de 2001, os Dr. Salazar são constituídos por Manuel Albuquerque (voz), Marco Moura (guitarra), Dim Costa (guitarra), João Mendes (baixo), RJ (baixo) e Pedro Neto (bateria). Iniciaram a sua actividade ao vivo a 6 de Julho de 2002 no IPJ de Lisboa, seguindo-se uma série de concertos e de participações em festivais de música moderna, um pouco por todo o país. Lutando contra as dificuldades normais de uma banda, acrescidas pela adopção do nome polémico, o projecto desenvolveu-se numa base de determinação e auto-edição. Sem fazer a apologia do “ditador”, abordam-se assuntos da ditadura e da democracia e crítica social sem politizar a música, num som pesado de cariz Industrial. Foi em meados de 2005, sem medos e sem vontade de se subjugarem perante a mentalidade conservadora e retrógrada do país, que os Dr. Salazar lançaram o seu primeiro longa-duração “Antes & Depois”, auto-financiado, sucessor do EP “Dedo Na Ferida”, lançado no ano anterior.
“Antes & Depois” (como a banda referiu na entrevista) é a contraposição da Ditadura e da Democracia o que é que ambas têm de bom e de mau, o que é que mudou, o que é que nunca muda. É um álbum que se caracteriza por um som bem definido (comparando com o “Dedo Na Ferida”), simples e (mais) pesado, um pouco mais sujo e agressivo (comparando com o “Lápis Azul”) e claro, por uma qualidade e um sentimentalismo enorme conjugado a uma parte lírica muito bem trabalhada, desde as palavras que são transmitidas, à forma como são transmitidas, com uma intensidade crítica enorme (digamos, uma ataque) sobre o Estado Novo.
Falando da música: a voz do Manuel, seja num tom falado ou num tom mais agressivo é impressionante, adapta-se na perfeição a todo o instrumental. As guitarras são bem distorcidas, os ritmos são pesados e rudes. E claro, não me podia esquecer dos toques industriais e electrónicos que fazem toda a diferença nos temas. O álbum começa da melhor forma com aquele que é para mim um dos melhores temas: “Culpa Do Sistema”, que teve a direito a um video clip. Destaque também para a emblemática “Sensação FDP”, um dos temas mais conhecidos da banda. “Revolta Dos Povos” é outro grande tema com uma letra bastante realista e triste, com uns riffs e solos de guitarra espectaculares. “Ventania De Mudança” fala da revolução do 25 de Abril, do antes e depois, instrumentalmente caracteriza-se por uma melodia de guitarra pesada e suja, realce especial para a letra “Quando veio a ventania / levantou a poeira toda / secando o curto horizonte / e vieram utopias / em fúria fomos para a rua / e fomos caindo lentamente”.
“Falar Do Mendigo” é outro grande tema com uma letra bastante sentimental, onde a banda aborda (penso eu) o pós-25 Abril, sobre os mendigos que não deixaram de pedir, os que lutam que não deixaram de lutar… Destaque para o grande solo de guitarra e para as linhas do baixo que sempre foram uma coisa que adorei nesta banda. “Tarrafal” é também outra faixa já bastante conhecida da banda, já vem do tempo do EP, e fala dos presos políticos e etc. É uma faixa pesada e com um refrão bastante emblemático, uma óptima escolha para ser tocada ao vivo. Outra grande música é sem dúvida a “Cais Da Rocha” com um início fenomenal com um lead de guitarra de cortar a respiração, destaque para a letra e para o refrão bastante profundo (o Manuel sabe bem como tornar as músicas únicas com aquela voz espectacular), e para aquele lead de guitarra que se vai ouvindo (e bem!) ao longo da música. O CD não podia terminar melhor se não com “Veterano De Guerra”, onde a banda explora o seu lado mais calmo e limpo numa balada espectacular e única, com um piano de fundo soberbo. Não gostei das faixas “Face Que Temos” e “Política / Lixo”.
“Antes & Depois” resume-se a um álbum absolutamente único, arrisco-me a dizer até que este é um dos melhores álbuns realizados em Portugal nos últimos anos, composições pesadas, simples, um grande vocalista, um baixo divinal e um carácter interventivo impressionante. É também um álbum que cresce com o número de audições, há vários pormenores (que fazem uma grande diferença) que só nos apercebemos ao fim de várias audições. Não vou estar aqui com histórias de que eles mereciam mais reconhecimento, já todos sabemos essa história e já é um tema mais que debatido. Honestidade, simplicidade, sinceridade e atitude, aliadas a um grande som e uma grande mensagem, são o mais importante.
Encomendas para: dr.salazar@iol.pt
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