quarta-feira, 8 de junho de 2011

Defuntos - Luto Perpétuo

Nos últimos anos Portugal tem assistido à ascensão dum duo misterioso e único, bem conhecido pelas suas marchas fúnebres e visões de morte. Num ano (2010) marcado pelo lançamento de “Invocação Aos Mortos” em Abril, os Defuntos lançam ainda em Novembro (dia 2, dia dos Mortos) o seu quinto longa-duração intitulado “Luto Perpétuo”, num luxuoso Digipack CD com 16 páginas que nos leva ao coração do século XIX, numa viagem intensa e mórbida daquilo que seria a vida enfrentando a morte. A edição deste registo sinistro e melancólico ficou a cargo da Dunkelheit Produktionen, limitado a 500 cópias.

Os Defuntos, praticam um Black/Doom Metal bastante depressivo, triste e doentio, lento como uma procissão fúnebre e oculto e assustador como alguém dentro de um caixão. Defuntos é tão desolador e triste que se torna muitas vezes difícil de ouvir, é como se fosse um funeral constante, é perturbador, mórbido e sombrio.  A qualidade não é a melhor, e tenho a certeza que nem é essa a intenção da banda. Aquilo que sentimos aqui, é a morte, é estar num cemitério, é a exuberância dum jazigo ou de um caixão… É a podridão humana. Todos os temas são cantados em português, e, se há uma coisa que se destaca, é sem dúvida a poesia romântica extremamente sombria, bastante bem elaborada. A voz doente (e por vezes chorada) de Conde F. é lenta e arrastada, como alguém a contar uma história. O instrumental é marcado por um baixo lento e simples, nalgumas partes acompanhado por um piano básico e por uma bateria lenta e suave. Destaque para a introdução “Mórbido Padecimento”, a quarta parte d’A Visão Da Tragédia e para o tema “…A Tua Voz…”, que fala duma maldição chamada vida. Músicas lentas e ritualistas como “Algarve Esquecido” e “Dentro De Um Corpo Que Era Teu…” amaldiçoam-nos com um clima sufocante e mórbido inexplicável, onde sentimos uma arrepio de morte e uma agonia que nos atormenta do início ao fim.

Defuntos é a banda sonora/réquiem ideal para qualquer funeral, Black/Doom deprimente e mórbido. Acrescento já que ouvir Defuntos não é para qualquer um, nem para ouvir em qualquer lugar ou estado espírito, é como um recuar no tempo, como uma viagem ao século XIX, a funerais e à “convivência” com pessoas mortas (repare-se em todo o artwork dos Defuntos, desde o lançamento da primeira Demo, com fotos de pessoas mortas, acto muito comum do século XIX). Confesso que ao início (aquando do lançamento de “Nada É Eterno”) não apreciava muito este duo. Neste momento posso afirmar que estes senhores são um dos segredos mais bem guardados do Black Metal nacional, muito mais apreciado lá fora que cá (como vai sendo normal). São uma banda que não desilude, e, a cada lançamento (que têm sido muitos ultimamente) nota-se uma evolução. Em relação aos meus registos preferidos destaco “Sangue Morto” e “A Negra Vastidão Das Nossas Almas”.  Com uma bagagem de estúdio muito forte, esperemos por um (o segundo penso eu) concerto ao vivo! “Da Penumbra surge o Infortúnio da vida, e nela irei permanecer / Neste buraco, negro de sentimentos, afundo-me… / Para nunca mais sair”.

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