sexta-feira, 17 de junho de 2011

Entrevista: Grog

Os Grog iniciaram as actividades em 1991, já passaram 10 anos desde o último álbum de estúdio, podes-nos fazer um balanço da carreira dos Grog desde essa altura?
Pedra: Após a edição do Odes To The Carnivorous, os Grog foram alvo de uma série de acontecimentos que determinaram algumas mudanças, quer de formação, quer de disponibilidade para a banda. Ainda assim, após paragem intencional de 1 ano, entre 2006 e 2007, provocada pelo meu afastamento, para dar espaço e repensar a orgânica da banda, bem como para permitir o avanço de inúmeros aspectos pessoais de alguns elementos da banda, o balanço é muito positivo. Esta ausência de 10 anos é subjectiva e induz em erro porque pensa-se que os Grog simplesmente esvaneceram neste período, tornando-se aparentemente e estranhamente invisíveis para muitos. De facto esta última década foi marcada por um recolher introspectivo muito profundo da banda, porém, felizmente, nada disso se passou, dado que durante todo esse tempo, excluindo o da paragem, mantivemo-nos activos em concertos por Portugal e fizemos uma Tour em Espanha com Simbiose, Suhrim e Dead Infection. Mais, em 2005 marcamos presença no tributo a Misfits, lançado pela Raging Planet, com o tema “Death Comes Ripping” e sempre nos mantivemos dinâmicos na composição de novos temas. Se é que é necessário dizer, entre Junho do ano passado e Junho de 2011, os Grog consumaram o lançamento de 3 registos discográficos. Ou seja, em 1 ano, os Grog editaram mais edições que ao longo de qualquer período da sua carreira. Logo, estes resultados são produto de uma abordagem mais interior, que a banda assumiu, pelo que estamos muito satisfeitos e motivados para continuar a fazer o que gostamos.


Os vossos temas da Split com os Roadside Burial e PussyVibes estão muito diferentes do “Odes To The Carnivorous”, podemos considerar isso como um regresso ao Grindcore?
Alex: Acho que devido ao carácter das outras bandas que estão no Split optamos sem dúvida em escolher temas mais grindcore e “in your face” que tínhamos.
Pedra: Há que relembrar que os Grog se iniciaram no Grindcore, por isso esta inflexão não é terreno virgem para nós. Quando recebemos o convite para participarmos neste Split fomos integrados num espírito mais orientado para o Grindcore, dada a natureza musical das bandas PussyVibes e Roadside Burial. Assim sendo, e como o Alex disse, seleccionamos os temas que mais se enquadravam na filosofia deste registo e, sem preconceitos, foi isso que gravamos.


“Gastric Hymns Mummified In Purulency” é como um recuar no tempo na vossa carreira, com alguns temas inéditos ou outras versões de alguns já existentes. Este lançamento marca o regresso dos Grog às edições discográficas?
Pedra: Não. Este CD, cronologicamente, não marca o regresso às edições discográficas, o 3 Way Split sim, esse poder-se-á considerar o regresso dos Grog ao mundo das bolachas sonoras porque apesar de ter saído em 2010 foi gravado em 2009. Com o “Gastric Hymns Mummified In Purulency” foi diferente, embora este lançamento tenha sido pensado com alguma antecedência, para coincidir com o 18.º aniversário da banda, apenas foi realizado e lançado em 2010. Daí ser um CD com material de toda a nossa carreira, fomos mesmo ao baú cavar o mais fundo possível para podermos oferecer algo de novo para quem nos segue e gosta do que fazemos. Não é um Best Of, como já ouvi dizer e li, é mais uma edição comemorativa e representativa de um marco importante para a nossa existência, existência essa que tem um sabor especial para todos nós.


O Pedro Pedra (vocalista) é o único membro que está na formação da banda desde o princípio, achas que esta formação do Grog é a melhor que já tiveram?
Pedra: Os quatro actuais elementos da banda já estão juntos desde 2003, são 8 anos de convívio e de conhecimento mútuo. Juntos temos conseguido levar a banda a um outro nível não só musical como também pessoal. Somando tudo, tenho que concordar que sim, esta é a formação mais forte, mais cúmplice, mais responsável e mais ambiciosa que os Grog tiveram até hoje.


Neste momento os Grog têm apenas um guitarrista, querem manter a formação assim durante muito tempo?
Alex: Na realidade a formação de Grog sempre foi com uma guitarra, só com o “Odes To The Carnivorous” é que se acrescentou uma segunda guitarra. Neste momento sentimos que a formação actual é a que funciona melhor, mesmo ao vivo. Os temas novos e antigos foram compostos e arranjados de forma a serem tocados apenas por uma guitarra ao vivo sem perder peso. Claro que, na minha opinião, isso também só é possível quando se tem um guitarrista peculiar como o Ivo.
Pedra: A banda tal como está neste momento e face à abordagem musical que assume sabe que a questão do segundo guitarrista não é essencial, tal como o Alex afirmou, os Grog foram um quarteto durante a maior parte da sua existência e sempre chegaram a todo lado desta forma. Ainda que possam dizer que ao vivo faz diferença, todos sabemos que o que faz toda a diferença ao vivo é ter um bom som e isso, sim, nem sempre é fácil de se obter.


Preparam-se para lançar o terceiro álbum de estúdio. Neste momento quais são as vossas ambições em relação ao mesmo?
Pedra: Estamos muito satisfeitos com o novo disco, consideramos que demos um passo enorme face a todos os lançamentos efectuados anteriormente, a todos os níveis. Musicalmente, conseguimos levar o nosso som a um extremo que ainda não tinha sido atingido, ritmicamente, todos os elementos da banda elevaram-se e puseram a sua melhor prestação ao serviço da excelência, graficamente desenvolvemos uma imagem e um grafismo coerente com o conceito do álbum pelo que acreditamos que este disco seja o mais intenso e completo da nossa carreira. Consequentemente, sabemos que este disco não vai passar despercebido dentro do meio do Brutal Deathgrind. As ambições são, acima de tudo, tocar com mais frequência na Europa e poder espreitar outros mercados musicais, como o Americano e o Asiático.


Como decorreu o processo de gravação do álbum?
Alex: O álbum foi gravado nos estúdios MDL pelo pródigo André Tavares (Seven Stitches), e foi um processo calmo, nas melhores e mais profissionais condições. Acho que a nossa idade e experiência já quase que nos obriga a ter estes pequenos luxos. Os estúdios MDL é onde o André capta pérolas como: João Pedro Pais, Misia, Martinho da Vila, Susana Félix, e agora os Grog! O álbum levou-nos ao nosso limite de capacidade técnica como músicos e só alguém como o André é que conseguiria retirar o nosso máximo sem grandes stresses e sempre no melhor dos ambientes.
Pedra: Não há muito para dizer, é uma honra trabalhar com o André, depois de termos gravado o Split com ele, não conseguimos pensar em mais ninguém para esta tarefa. A aposta está mais do que ganha e sem qualquer tipo de excesso há que dizer que ele sabe exactamente o que faz e o que a banda quer.


A temática Gore sempre foi muito comum em todos os lançamentos da banda, parece que neste álbum esse tema está ainda mais repugnante, quem desenhou o artwork?
Pedra: Esta temática é desenvolvida desde o início da banda, foi a escolhida pelos motivos que muitos já conhecem, ou seja, abordam o lado obscuro do ser humano, através dos seus comportamentos, instintos, impulsos mais desviantes, levando-os a níveis mais próximos da ficção aberrante, sempre regados com uma grande dose de “nonsense” e humor negro. Fazemo-lo como uma forma de purga pessoal, transmutando o que de mais sombrio existe dentro de nós e à nossa volta e querendo fazer lembrar conscientemente a todas as pessoas que ainda há muito dentro de nós que contribui para estados alterados de consciência que, como tal, devem ser identificados e reconhecidos para prevenir males maiores. Com o “Scooping The Cranial Insides” não foi diferente, embarcamos numa profunda viagem ao cérebro reptiliano do Ser Humano em busca de paisagens que fossem reflexo disso. O conceito do artwork foi desenvolvido pela própria banda, mas traduziu-se no que todos já viram ou vão ver, na capa do CD e nas fotos da banda, através da mestria profissional e visceral da Carina Martins, que sem qualquer dúvida respondeu com o máximo de rigor e competência ao desafio que lhe lançamos.


Como surgiu o contacto com a holandesa Murder Records?
Pedra: Os contactos com a Murder Records resultaram do envolvimento deles no “Gastric Hymns Mummified In Purulency”. Para quem não sabe, a Murder records está sediada na Holanda, mas é gerida por portugueses, o Daniel Santos, com o apoio do irmão o Pedro Santos da Lucidistro. Sabíamos que queríamos colocar o CD num ponto central da Europa para beneficiar de outro tipo de visibilidade, além disso sabíamos que o Daniel já tem muitos anos de conhecimento do underground europeu e como tal fazia sentido este acordo. Entrámos em contacto com o Daniel e encetámos uma conversa. Depois disso, foi uma questão de tempo e de ajustarmos as condições do acordo.


O álbum vai ser distribuído por diversas editoras internacionais de Brutal Death e Grind, achas que isso vai contribuir, de certa forma, para uma maior divulgação dos Grog a nível internacional?
Pedra: A aposta na Murder Records foi essa mesmo, nos sabemos que temos um disco forte, a editora reconheço-o e isso coincidiu com objectivos comuns. Ambos queremos dar o passo para um outro nível, como banda e respectivamente como editora. O facto da distribuição do CD estar bem planeada sustenta as nossas intenções e é claro que todos desejamos levar os nossos nomes e respectivos trabalhos o mais longe possível. As condições estão criadas, as vontades alinhadas, por isso, acreditamos chegar onde for preciso.


Onde é que os Grog se sentem melhor a espalhar devastação e brutalidade? Em palco ou em estúdio?
Alex: Eu gosto das duas formas, uma sem a outra para mim não faz sequer sentido.
Pedra: Sem dúvida, Alex! São partes diferentes de um todo, por isso complementam-se. Fora isso, somos pessoas perfeitamente normais e não atacamos ninguém contra a sua vontade no nosso dia-a-dia.


Já há propostas para concertos lá fora?
Pedra: Recentemente tocámos em Espanha, porém de momento não há mais datas previstas fora de Portugal. Não obstante o presente, há intenções de fazermos algumas datas na Europa, de momento ainda não está nada definido, até porque o novo álbum só agora vai começar a circular nos mercados. Por isso, é aguardar pelos efeitos da promoção e distribuição, das críticas da imprensa especializada e do público.


Sendo tu (Alex) o baixista da banda, diz-nos quais são as tuas principais influências como músico?
Alex: Bem, sinto que sou influenciado por absolutamente tudo o que me rodeia, musica ou não. Musicalmente roubo toda a gente sem descriminar, desde da porcaria que oiço na rádio até às minhas bandas favoritas. Mas para não estar a dar uma resposta tão vaga e politicamente correcta, devo dizer que a época que para mim tem os baixos a desempenharem a função que eu considero correcta, é dos anos 70 para trás, em que o baixo não era uma frequência grave que preenchia espaços “lá atrás” mas sim o instrumento que fazia a ponte do mundo rítmico para o melódico com muito groove, era um instrumento cuja linha quase que definia a música toda. Acho que procuro um pouco isso como baixista, tento fazer com que o todo sobressaia melhor, nem que seja a dar só uma nota.


Qual é a vossa opinião acerca do panorama da música extrema em Portugal nos dias que correm? Sentem que ainda existe muita falta de apoios?
Alex: Penso que tenho a opinião contrária a todos, acho que em Portugal o underground até funciona bastante bem comparando com a maioria dos países. É certo que não há apoios, mas isso não é só para o Metal. Posso afirmar que é bem mais fácil ter uma banda de Metal e dar concertos com algum público, do que tendo uma banda de Rock, Reggae ou mesmo Hip Hop. Para esses géneros ou tens sorte e tornas-te um fenómeno de 15 minutos de fama ou então… nada, (óbvio que há boas excepções, estou a generalizar). Nós temos vários e cada vez melhores festivais e se formos a ver começamos a ter muita escolha semanalmente em termos de concertos. Podia ser melhor? Claro que sim, e por vezes é frustrante ver alguns concertos de boas bandas nacionais sem público e concertos de bandas internacionais que são uma porcaria com verdadeiras enchentes, mas é mesmo assim em todo o lado com todos os géneros.
Pedra: Nós temos uma cena boa, hoje em dia temos festivais com anos de experiência e responsáveis pela divulgação do metal nacional pelo mundo. Ao nível de salas, também é sabido que existe um circuito estruturado para o efeito e que com um pouco de visão se conseguem e condições razoáveis para se tocar. É óbvio que tudo isso não se consegue de um ano para outro, mas creio que há bons motivos para acreditar no que se faz e dedicar-se ao que se sente na música. Tudo se resume a seriedade e vontade de trabalhar e Portugal tem pessoas com esse perfil a todos os níveis do panorama da música extrema.


Por fim, querem deixar alguma mensagem aos fãs de Grog e a todos os leitores?
Alex: Adquiram o nosso novo álbum porque está uma verdadeira demolição em termos técnicos e apareçam nos concertos sempre que puderem!
Pedra: Obrigado pela oportunidade em nós dar a conhecer, João. O nosso álbum está aí para todos os fãs de música brutal, ouçam-no e comprem-no, estamos certos que vão gostar do que temos para vos oferecer. Felicidades para o blog e Grind On!

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